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Pai a abraçar filho

A importância de escutar o corpo, a nossa mente somática é um dos pilares da Parentalidade Generativa! Antes de sermos palavras, somos corpo, é ele a nossa casa. O corpo não mente. Ele conta histórias, guarda memórias eternas e dá-nos sinais constantes sobre os caminhos a seguir na vida. O corpo acolhe as nossas emoções, reage aos nossos pensamentos e impulsiona-nos para nos colocarmos em movimento. É o corpo que nos leva a viajar pelo nosso mundo interior e pelo nosso mundo exterior.

Quantos quilómetros já fizeste no teu corpo?
Quantas sensações já presenciaste num minuto?
Quantas vezes escutas o teu corpo?
Quantas vezes arrependeste de não dares atenção aos sinais constantes que o teu corpo estava a dar?

Quando chegamos ao mundo, somos acolhidos pelos braços e colo dos nossos pais, um momento de perfeita simbiose e sintonia entre dois corpos que já falavam há muito tempo, mas que têm a oportunidade física de se sentirem. Através desse toque resgatamos informações de segurança, de conforto, de suporte, de acolhimento, de 2ª pele, uma sensação de casa. E através desta troca de toque, de contacto, de pele, que os pais e o seu bebé dão continuidade ao vínculo que iniciou no útero.

Escutar a mente somática, começa nos sentidos

Esta linguagem muito primária, muito maternal, é o que nos dá fronteiras, uma noção dos limites do nosso corpo, assim como orientação espacial e temporal. E existem ferramentas muito aprimoradas neste nosso corpo, os sentidos (os nossos sistemas de representação). É através dos sentidos que conseguimos diferençar o que é segurança e o que uma ameaça.

E esta noção de segurança e de ameaça é numa primeira instância adquirido através do mundo dos nossos pais. É importante, relembrar que o corpo dos pais é a primeira linguagem que ressoa no corpo de um bebé, dando referências, os tais limites e sentido de orientação, para que lhe se possa posicionar no mundo.

À medida que vai crescendo, a criança, curiosa na sua essência, dá asas à sua exploração através do toque, do paladar, do olfacto, da visão e da escuta. O seu génio interno, a sua vozinha guia que o ajuda a entrar em contacto com o mundo, dá-lhe indicações de mexer e remexer, de se atrever a explorar. E só nesta exploração é que a criança se conhece e conhece o que está à sua volta.

O porquê de escutar a mente somática

Ao sabermos a importância do corpo para a criança, precisamos nós, adultos, de assumirmos a preciosa responsabilidade por escutarmos o nosso corpo, porque:

  • É no corpo que se encontram os recursos que nos ajudam a auto-regular e a co-regular. A regulação é o mecanismo mais importante que cada um de nós em à sua disposição para navegar nas suas emoções. Pode ser feito através da respiração, de uma pausa, da mudança de ambiente, do colocar a mão na barriga ou no peito, olhar directamente para o horizonte, estar em contacto com o animal de estimação, entre outros. Algo que o ajuda a encontrar novamente o seu centro. Ao recorrermos a este recurso, aumentamos a nossa resiliência, ou seja, aumentamos o espaço para sentir aquela emoção, sem entrar na identificação e sem querer resolvê-la e não senti-la.
  • É também o corpo que nos diz se sente seguro ou não, quando está perante uma pessoa ou uma situação. Esses sinais aprendidos ao longo da vida são para serem vistos. Podem-nos retirar de situações muito desagradáveis. Por sua vez, um corpo que se encontra sempre em alerta, ameaçado, um corpo constantemente contraído, encolhido, é um corpo que precisa de recuperar o sentido de segurança.
  • No corpo encontram-se guardados os nossos maiores tesouros, aqueles recursos que vão deixar a sua marca no mundo. Esses tesouros encontram-se guardados nas nossas memórias implícitas. As nossas memórias implícitas são as nossas primeiras memórias antes de acedermos à linguagem. São informações que recolhemos nos primeiros anos de vida e que quando usadas de forma inconsciente afetam os nossos pensamentos e comportamentos. Dentro das nossas memórias implícitas existem dois tipos de memórias: a emocional, que guarda as nossas emoções sentidas durante o episódio; e a memória procedural, a memória que guarda os procedimentos de como fazer uma determinada tarefa sem pensar ativamente sobre ela. São todas as nossas ações realizadas em piloto automático. A única porta de entrada para estas memórias é de facto o corpo, o restabelecer o equilíbrio natural do mesmo, por meio de intervenções psicoterapêuticas corporais. Só quando damos voz ao corpo, é que conseguimos resgatar a nossa potência máxima.

O que acontece à criança quando conhece e escuta a sua mente somática?

E este conhecimento é importante, porque ao não prestarmos atenção ao nosso corpo, desligamo-nos também da criança. Para a criança aprender sobre o seu mundo interior e sobre o seu mundo exterior, ela recorre aos pais, levantando os seus braços, pedindo-lhes a sua companhia, e acima de tudo, o mais importante e invisível aos nossos olhos, eles aguardam pelo vínculo, pela ligação emocional e afectiva, que lhes oferece um espaço seguro para serem quem são. Quando a criança sente que pode ser quem ela é, ela sente-se segura. Quando se sente segura, ela brinca, aprende, confia, quer estar próxima, aberta e receptiva aos outros, conhecendo os seus limites e os limites dos demais.

Resumindo, é uma responsabilidade imensa e maravilhosa ajudar a criança a decifrar o que sente no seu corpo, a estar com os seus desconfortos, a ampliar os seus prazeres, simplesmente, escutando e respeitando o nosso corpo, com muito amor e gentileza. Só assim, teremos adultos que se amam incondicionalmente, sem necessidade de aprovação externa. Adultos que se amam simplesmente por existir. E crianças que se sentem seguras para ocupar o seu espaço no mundo.

Psicóloga Social, especialista na área da VinculaçãoLicenciada em Psicologia Social, com especialização em Vinculação é inspirada pela pedagogia de Maria Montessori e pelo trabalho de Virginia Satir. Na Pós-Graduação de Coaching assistido por Cavalos, desenvolveu a sua tese: Vínculos perdidos como voltar a reconstrui-los em idade adulta.Aprofundou a prática clínica junto de famílias, ajudando a criar Vínculos Seguros, o nome do seu projecto profissional, desde da pré-concepção, gravidez, pós-parto e pela vida, entre pais e filhos dos 0 aos 100 anos.É ainda Coach, PNL Master Practitioner e Facilitadora Sénior de Parentalidade Consciente. Frequenta, no Brasil, a Especialização em Experiência Somática, estudo do Trauma.Duas frases que a acompanham: “Ajuda-me a crescer, mas deixa-me ser eu mesmo” (Montessori); “A forma como falamos com as crianças torna-se a sua voz interior” (Peggy O’Mara). Ambas podem ser vistas tanto em crianças como em adultos, seja qual for a relação e focam-se na essência do ser humano: a auto-estima.Membro Efectivo da Ordem Portuguesa dos Psicólogos e formadora certificada com CCP.

1 comentário

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    Luiza4 anos ago

    Belíssimo texto!

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