Pais e filhos, a relação mais espiritual e generativa de todas
O grande tesouro das relações, acredito ser a conexão, é aliás, o mote da Parentalidade Generativa (PG)- “não é sobre perfeição, é sobre conexão”. E conectarmos-nos de forma consciente é absolutamente essencial. É por isso que o que o poema de Khalil Gibran que agora partilho é, muito provavelmente, dos que li até hoje, um dos que melhor traduz a relação pais – filhos. A relação que sinto ser a mais espiritual e generativa de todas as relações humanas, aquela que nos permite crescer e desenvolver em toda a plenitude.
Porque é uma co-relação. É uma experiência, ou uma sucessão de experiências, co-reguladoras, que criam vínculo. Como nos lembra o querido Dr. Stephen Porges – o pai da teoria polivagal – essa relação amplia a relação e a neuroplasticidade para que a própria criança cresça segura de si o suficiente para seguir em frente, sem o adulto. Partilho o excerto de uma conversa deliciosa com um dos professores que mais impactou na minha caminhada profissional, o Dr. Gabor Maté e o sempre maravilhoso Dr. Stephen Porges.
Convido-te a que o leias e sintas: Se, como e onde ressoa em ti…. Tenho-o impresso, emoldurado e leio-o sempre que sinto que, por algum motivo, dispara a minha necessidade de controlo e começo a agir desde um lugar de medo, em vez de um lugar de amor. Leio-o sempre que me afasto da holonarquia. Rapidamente recupero a minha liberdade de ser, estar, aceitar e continuar.
Filhos
E uma mulher
que trazia uma criança ao colo
disse:
– Fala-nos das Crianças.
E ele respondeu:
– Os vossos filhos
não são os vossos filhos:
são os filhos e as filhas
do chamamento da própria Vida.
Vêm através de vós,
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eIes têm pensamentos próprios.
Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas almas:
porque as suas almas
habitam a casa do amanhã
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos.
Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.
Porque a vida não vai para trás,
nem se detêm com o ontem.
Sois os arcos, e os vossos filhos
as setas vivas projectadas.
O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e dobra-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe.
Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria.
Porque assim coma Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica.
Khalil Gibran, em ‘O Grande Livro do Amor’