Curar os nossos traumas é prevenir e identificar os dos alunos!
Enquanto profissionais da área da educação, cuidadores que somos, pelo dever e responsabilidade pessoal e social que assumimos perante as crianças que nos são diariamente confiadas, muito antes de pensarmos sequer em educar, em cumprir currículo e vivermos numa preocupação desmedida para que tenham boas notas e excelentes comportamentos (seja lá isso o que for), é essencial trabalhar no nosso autoconhecimento, no nosso processo de cura. Sim, cura! Tudo o resto é secundário. É desafiante colocar em palavras. Mas sinto. Como lembrava Martha Graham, o corpo diz o que as palavras não podem dizer. E na Parentalidade Generativa conhecemos bem a sabedoria do corpo. Asseguro-vos que quando nos permitimos fazer este trabalho, a conexão que criamos com as crianças eleva a relação para um patamar nunca antes experimentado.
Olhar para dentro é iniciar o processo de cura
Só quando olhamos para dentro, só quando nos permitimos acolher, integrar e transcender as nossas feridas emocionais (os traumas, este é o nome!), muitos deles fruto da educação que recebemos na nossa infância, é que estaremos livres de toda uma bagagem de sofrimento emocional que, sem nos apercebermos carregamos nos ombros, ditando a qualidade ou falta dela, nas relações que criamos.
Traumas em sala de aula
E é essa bagagem, são esses traumas que não foram vistos, nem reconhecidos e que estão lá, que levamos, muitas vezes, para a sala de aula. É por isso que temos dificuldade em lidar com os gatilhos que disparam em nós, perante comportamentos que as crianças têm. Fazem-nos viver, aqui e agora, a nossa infância, as nossas dores que precisam de ser vistas e curadas, e reagimos em vez de agirmos.
Queixamo-nos que não conseguimos criar relação com um determinado aluno, que não nos ouve e que destabiliza a sala, não percebemos porque é que chegamos ao final do dia desgastados, tantas vezes à beira no limite da sanidade mental, e até questionamos onde tínhamos a cabeça quando escolhemos seguir a área da educação. A verdade, e falo por experiência própria, porque também eu já estive muitos anos nesse lugar, é que a maioria de nós quer respostas rápidas, soluções milagrosas, técnicas, métodos, listas de como fazer para alcançar os resultados que queremos e num curto espaço de tempo. Lamento informar-vos: não é assim que chegamos lá! Ou melhor, até podemos chegar, mas vamos andar numa busca diária e constante por soluções e poções mágicas que têm efeitos imediatos, contudo, não duradouros e francamente perigosos.
Compromisso, tempo, presença, curiosidade, aceitação e coragem!
A transformação só acontece quando assumimos responsabilidade pessoal por nós, quando há compromisso, tempo, presença (primeiro em nós), paciência, curiosidade, aceitação e coragem! E é na coragem que coloco agora o foco! Precisamos de uma boa dose para viajarmos ao nosso mundo interior. Sermos capazes de observar os nossos traumas e sombras sem fugirmos a sete pés, não desistirmos quando o processo começa a doer, ter confiança e fé que é pela dor que emerge a resiliência. É assim que ganhamos consciência dos padrões que nos acompanham e podemos escolher transfomá-los. E não é assim tão complicado aceder à coragem. Ela reside no nosso coração e é uma emoção generativa, logo, é um valor da parentalidade generativa.
A viagem de cura na Parentalidade Generativa
E fazer a viagem da Parentalidade Generativa é aceitar uma viagem em várias dimensões. É um alinhamento interno, pessoal e espiritual, centrado na essência de cada um de nós, em que cada um traz ao mundo o seu dom único, e externo, por tanto que nos traz da Programação Neurolinguística, da Ciência, do Coaching Generativo e da prevenção e cura do trauma transgeracional e somático.
Só depois desta transformação, quando caem as máscaras e capas com as quais nos habituamos a viver, desta desconstrução de quem achávamos ou nos fizeram achar que éramos, é que emerge o nosso Eu autêntico. Um Eu alinhado, onde os nossos três cérebros – entérico, cardíaco e cognitivo – funcionam em sintonia.
A sala de aula deve ser um lugar de curiosidade, criatividade e reconhecimento
E aí sim, a vivência em sala de aula transforma-se completamente (mesmo em formato on-line)! Passamos a olhar para as crianças como um todo do qual nós também somos parte, em holonarquia. Aceitamo-las, vemo-las e reconhecemo-las por quem são e não por quem gostaríamos que fossem! Não as queremos consertar, não as queremos mudar, não as queremos corrigir, queremos sim, apoiá-las para que se sintam confiantes e seguras para sejam quem realmente são e façam o que aqui vieram fazer. Observamos os comportamentos com um olhar curioso, generoso e compassivo, com a consciência de que o comportamento é apenas a manifestação de algo mais profundo, que se passa dentro do mundo interior de cada criança – e nosso também. Focamo-nos em nós enquanto adultos e no exemplo que somos enquanto modeladores de Ser e Sentir, sabendo que a forma como nos relacionamos com as crianças é um reflexo da forma como nos relacionamos connosco e com o mundo. E, por fim, e talvez o mais importante, percebemos que antes de pensarmos em educar uma criança, temos de nos (re)educar enquanto adultos!