O que é a Coerência coração – cérebro na parentalidade generativa?
Em vez de ir já direta à resposta do que é afinal, a coerência coração – cérebro (cognitivo) quero antes fazer uma ponte: todos temos momentos e/ou dias de levar as mãos à cabeça ao mesmo tempo que dizemos: “nem sei para onde me virar!” Reconheces?! Vejo acontecer em tantas famílias que acompanho e na minha vida, também. Alturas que são mais desafiantes e em que mergulhamos em estado CRASH (CRASH State). E o gesto das mãos na cabeça não é inocente. É precisamente na cabeça que permanece esta paralisia típica de um estado sem recursos, a chamada ‘analysis-paralysis’ ou, se preferires, mente macaca, roda do rato… nomes à parte, certo é que ativa o nosso sistema nervoso simpático, o nosso cérebro reptiliano que nos diz: “agora luta, foge ou paralisa!” E assim andamos nós a reagir à vida em vez de agir, a sobreviver em vez de viver… Por outras palavras, andamos a deambular em incoerência!
Como podemos fazer diferente?
Sabemos hoje, pela ciência atual (que veio comprovar o que a Programação Neurolinguística – PNL – de terceira geração já nos diz há décadas e o que nos diz também a parentalidade generativa – generative parenting®) que o nosso coração é um centro de processamento de informação, que envia muito mais informação para o nosso cérebro (cognitivo) do que o contrário. É também constituído por inúmeros tipos de neurónios (cerca de 40 mil células especializadas chamadas neurites sensoriais), neurotransmissores e proteínas. Estas células possibilitam, tal como acontece no cérebro cognitivo, aprender, recordar, decidir e sentir de uma forma independente, e podemos também sintonizá-las! Os sinais que são enviados ao cérebro podem afetar as nossas experiências emocionais. Quando começamos a ter acesso a esta grande rede neuronal podemos mover a nossa atenção do nosso cérebro para o nosso coração. É caso para dizer, “vamos lá adicionar mais coração às nossas vidas, no nosso dia-a-dia, seja onde e quando for!”
Não é por acaso que o coração é o primeiro órgão do nosso corpo a ser formado
Um alinhamento coerente entre o nosso coração, cérebro e emoções (‘heart and brain coherence’) conduz-nos a um novo caminho de percepção, de pensamento e de relacionamentos. A um novo patamar de consciência!
Quando praticamos coerência do coração experienciamos paz, quietude interior, bem diferente do ruído interior, que é normalmente gerado pela atividade mental e emocional desregulada.
Ao sintonizarmos o coração e o cérebro (cognitivo), estas duas redes neuronais poderosas, geramos uma relação de coerência, abrindo espaço para experiências únicas, para um infinito mundo de possibilidades, atingimos estados profundos de intuição, ou não estivesse a nossa intuição “alojada” no nosso coração.
Conseguimos experimentar uma aprendizagem mais efetiva, na memorização e no foco e na tomada de decisões. Quando nos permitimos fluir num estado de plenitude, de paz coerente, o nosso sistema nervoso está mais alinhado, o sistema hormonal e imunitário entra em balanço, e a nossa mente e emoções (re)conectam-se com a nossa prática espiritual, com a nossa essência, alinhadas com a nossa intuição. O coração é o centro do nosso Eu autêntico e da nossa melhor versão.
Coração – o gerador biomagnético mais poderoso do nosso corpo
Vivemos num mundo constituído por campos eléctricos e magnéticos, nós próprios somos um campo, e o único órgão no nosso corpo que tem o campo elétrico mais forte e o campo magnético mais forte não é o cérebro (cognitivo), é o CORAÇÃO. Por isso o nosso coração é o gerador biomagnético mais poderoso do nosso corpo, e esse campo eletromagnético contém informação. Daí a importância de nutrirmos o nosso campo eletromagnético com mais emoções generativas ou regenerativas (se preferirem, já que nos regeneram) tais como, cuidado, gratidão, apreciação e compaixão (valores da parentalidade generativa), que criam em nós, um estado de centramento e harmonia. Da mesma maneira também influenciamos o campo eletromagnético de outras pessoas, bem como o contrário.
A questão aqui é: “Como estamos a nutrir o nosso campo?”
Essa informação é gerada pelos nossos estados emocionais e é transmitida para todos aqueles que nos rodeiam. Esta prática de coerência beneficia a qualidade das relações com os nossos filhos e/ou com quem nos é mais próximo.
Na vivência da parentalidade generativa estamos comprometidos em nutrir e cultivar as emoções que nos regeneram, criando assim um estado de centramento, calma e harmonia. Mantermos emoções de elevada frequência, associadas à inteligência do coração, emoções regenerativas, como Gratidão, Compaixão, Paz, Paciência e Cuidado, ajuda na tomada de decisões, a promover um impulso no nosso sistema imunitário, a promover também o nosso bem estar geral bem como a criatividade e resolução de problemas.
E agora, perguntam vocês: “Sim, agora que estou no meu coração, como é que o sintonizo com o cérebro (cognitivo)?”
Essa relação, essa comunicação coração-cérebro acontece a cada minuto do nosso dia. O coração está sempre a enviar informação ao cérebro e este responde enviando informação de volta ao coração. Contudo, a prioridade aqui é perceber que tipo de ligação é que eu estou a escolher e a qualidade da relação coração-cérebro.
Emoções degenerativas
Segundo pesquisas e estudos não só do HeartMath Institute, como de outros centros de investigação, conseguimos perceber que quando experimentamos diariamente emoções degenerativas, que nos retiram energia vital, tais como, frustração, raiva, irritação, impaciência, tipicamente chamadas de experiências negativas, o sinal que estamos a enviar ao nosso cérebro é irregular, quase caótico, incoerente, e quando o cérebro recebe esse sinal vai responder em conformidade ao nosso corpo libertando hormonas e químicos de stress, aumentando os níveis de cortisol e adrenalina, enfraquecendo o nosso sistema imunitário. Este modus operandi, prolongado no tempo, torna-se nocivo.
Quando alteramos o sinal entre o nosso coração e o cérebro para um ritmo uniforme e regular, um ritmo coerente, alteramos também essas respostas do cérebro para o corpo, toda a química altera. A sabedoria está nas emoções que escolhemos criar e viver no nosso coração. Ao escolhermos, em consciência, a emoção o nosso corpo responde-nos através dos químicos libertados por essa mesma emoção.
The Heart Focused Breathing Technique
Uma prática pessoal e em família que gostamos muito cá em casa, e que também uso muito em sessões, é a respiração centrada no coração – The Heart Focused Breathing Technique. É muito simples e pode ser praticada em todas as idades, a qualquer hora e em qualquer lugar, sempre que seja confortável!
A experiência que tenho com a minha filha de 6 anos é maravilhosa e genuína! As crianças têm uma sensibilidade pura. À medida que avançamos, calibramos e ajustamos, criando um estado de recursos que nos permite trazer de volta esta conexão.
Partilho aqui uma das nossas práticas de respiração favoritas. Experimentem! Se sentirem, podem partilhar a vossa experiência, nos comentários.
- Sentados ou deitados, o que for mais confortável e que permita estarmos conectados. Fechamos os olhos e fazemos uma respiração profunda. Poderá ser feito de olhos abertos se assim for mais confortável. Sugiro que seja de olhos fechados, já que pode ser uma forma mais eficaz de levarmos a nossa consciência para o nosso mundo interior, onde estamos longe das distrações do mundo exterior, focando a nossa atenção exclusivamente no nosso corpo, no nosso interior. Repito, sempre que for confortável!
- De seguida, focamos a nossa atenção no centro do peito, na zona do coração e mudamos assim a consciência da mente cognitiva para o coração, simplesmente com o toque leve no centro do peito. Pode ser com a palma da nossa mão ou só com um ou dois dedos na zona do coração, e assim torna-se mais fácil de nos conectarmos com essa zona do corpo e levarmos a nossa consciência, a nossa atenção para onde se sente o toque.
- Neste momento começamos a respirar um pouco mais devagar desde o coração. Imaginamos o ar a entrar e a sair do nosso coração. Talvez 4 segundos para inspirar e 4 segundos para expirar, numa respiração lenta e profunda. Podemos até juntar feixes de luz com partículas brilhantes de cor à escolha da criança no momento. Pode tornar mais fácil a visualização do ar a entrar e a sair.
- Fazemos algumas repetições desde que seja confortável e permanecemos neste estado o máximo de tempo possível.
- No final, conversamos um pouco sobre o que fomos sentindo ao longo da prática, do que se transformou em nós, do que é agora possível.
- Na prática com a minha filha, dependendo da disponibilidade e entrega dela, por vezes, e muito delicadamente, começamos a ativar sentimentos e emoções regenerativas, como por exemplo o cuidado por algo ou com alguém, ou gratidão por algo ou alguém.
Neste momento estamos a enviar ao nosso corpo uma mensagem poderosa que é a de estarmos num espaço seguro, em tempo seguro que nos faz abrandar a respiração e nos faz sentir em harmonia e sincronizados de uma forma mais calma. Diz-nos que está tudo bem e que podemos deixar o modo de luta e fuga e o stress/ansiedade. Entramos no estado COACH.
Há dias, a mãe da parentalidade generativa, a Rita Aleluia, em ‘Conversations of Excellence’, com um dos organizadores da Global NLP Summit India, explicou-nos como funciona todo este processo, o que é como acontece a coerência cardíaca, como criamos e mantemos estados de harmonia e coerência entre coração e “cabeça”. Vale a pena ver, escutar, perceber o que a Rita nos diz neste (muito breve) trecho sobre a expressão da inteligência cardíaca.
Perante situações mais desafiantes, ao adicionarmos esta prática à nossa vida, não estamos a mudar o evento em si ou o que aconteceu, estamos sim, a transformar a forma como respondemos a esse mesmo evento, desde um lugar de amor e generosidade, desde o estado de recursos, com aceitação, sem lutar contra nada. Assim, ganhamos capacidade de acolher, integrar e transcender qualquer coisa que se manifeste ao longo da nossa vida, aceitando-a tal e qual como ela é.
E esta, para mim, é a diferença que faz a diferença! Seja em que momento for está sempre presente em mim. A minha intenção é partilhar esta expansão de consciência, de bem-estar e qualidade de vida, esta harmonia e conexão, começando comigo, na minha família, expandindo-a na comunidade… Porque somos todos UM. E isto, é ser generativo !
Não é sobre perfeição, é sobre conexão!